lavo o coração e passo neurônios amarrotados, 
penteio a cabeça e deixo os cabelos lisos sem fios quebradiços.
Dobro alguns sentimentos e guardo, 
outros jogo fora quando a poeira não sai. 
Pensei em alvejá-los mas lhes tiraria a cor...
Tenho as roupas dobradas e arrumadas uma a uma, 
bem passadas e engomadas, 
cores sobre cores, 
tom sobre tom. 
Arrumo todas no guarda roupa, 
como quem arruma os pensamentos em desordem.
Aspiro e respiro como quem abre as janelas. 
Vento e luz natural ajudam a espantar as sombras 
escondidas nos cantos.
Já arrumei outras vezes, 
sei que o brilho logo chega.
Recebo pessoas frias, 
quentes, tristes, alegres, magoadas, 
as que magoam, decepcionadas, 
as que decepcionam, mas recebo todas...
É bom receber as pessoas com cheiro de tinta nova 
e com cerquinha branca de madeira no jardim 
(igual sonho de americano).
As pessoas se encantam com este renovar 
e sempre voltam a freqüentar nossa casa.
Tenho um coração a lenha,
bem aconchegante para noites frias
Por Marylza Rezende
 

 
